Sim, essa doença também pode dar as caras nos primeiros anos de vida. E isso tem sido cada vez mais comum devido ao aumento da obesidade e do sedentarismo entre os pequenos.
Colesterol alto não é brincadeira!
Colesterol todo mundo tem – e, acredite, ele é imprescindível para o funcionamento de todo o organismo. Entre as funções que essa gordura desempenha no nosso corpo estão formar a membrana que recobre as células e garantir, assim, a entrada e a saída de substâncias; produzir vitamina D e hormônios sexuais; e fabricar a bile, líquido importante para o processo digestivo.
O problema existe quando as frações do colesterol estão em níveis inadequados. Estamos falando do LDL, conhecido como colesterol ruim, e do HDL, que é bom. Entenda: o LDL é aquele que se acumula nas paredes das artérias, o que leva a episódios de infarto e derrame; já o HDL tem exatamente a função de remover esse excesso de gordura dos vasos.
Diversos fatores podem contribuir para que ocorra um desbalanço nesse processo. Na infância, o principal deles é a obesidade – problema que já atinge uma em cada três crianças brasileiras de 5 a 9 anos, segundo uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde, divulgada em junho de 2015. Isso acontece porque, entre aqueles que estão acima do peso, o HDL costuma estar em baixa e o triglicérides, em alta. “Com isso, aumenta o risco de deposição de gordura nas artérias”, conta Isabel Cristina Guimarães, presidente do Departamento de Cardiologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Idade não é documento
Quando se trata de colesterol alto, a idade não importa – ele pode dar as caras em qualquer faixa etária. De acordo com a SBC, 20% das crianças e adolescentes entre 2 e 19 anos apresentam níveis elevados de colesterol no sangue, sendo que 8% têm altos valores de LDL e 45% contam com baixas taxas de HDL.
Embora esses números se devam, em boa parte, aos altos índices de obesidade no país, o excesso de peso não é o único fator que favorece o colesterol nas alturas. Doenças como diabetes e hipotireoidismo também podem desequilibrar as taxas lipídicas dos pequenos.
A genética também conta. Crianças que têm parentes de primeiro grau com problemas de colesterol estão mais propensas a desenvolver a complicação – e de forma mais precoce.
Há ainda casos raros em que o pequeno tem colesterol alto antes mesmo de nascer. “A gestante, por ser obesa ou ter uma alimentação inadequada, contribuiria para um processo de deposição de gordura nas artérias da criança”, revela Isabel Guimarães.
A prevenção deve começar desde cedo
O primeiro passo para afastar o colesterol alto é garantir que cardápio do pequeno seja saudável e equilibrado – isto é, rico em frutas, verduras, legumes, cereais integrais… “Nós temos hoje um perfil de alimentação da criança e do adolescente muito ruim, com excesso de carboidratos e gorduras saturadas”, analisa Isabel. O cenário é feio mesmo: segundo um estudo do Ministério da Saúde em parceria com o IBGE, divulgado no dia 21 de agosto de 2015, 60,8% dos meninos e meninas brasileiros com menos de 2 anos de idade comem com frequência biscoitos, bolachas e bolos. Outros 32,3% costumam ingerir refrigerantes e sucos artificiais, de acordo com o levantamento.
A atividade física é outro pilar fundamental no combate aos problemas de colesterol na infância. “O exercício físico é o principal tratamento para aumentar as taxas de HDL, o colesterol bom”, explica o pediatra Felipe Lora, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo. Por isso, brincadeiras que envolvam correr e pular, por exemplo, devem ser incentivadas desde que o pequeno dá os primeiros passinhos.
O diagnóstico precoce é importante
“A partir dos 10 anos de idade, toda criança deve ter o colesterol dosado”, preconiza Isabel Guimarães. Segundo ela, a antecipação dos exames só é feita se o pequeno é obeso ou quando há casos na família de colesterol elevado ou de doenças no coração. “Aí, orientamos que adiante a dosagem para ver se há alguma anormalidade que justifique uma prevenção mais rígida”, esclarece a médica da SBC.
Os valores são diferentes para os pequenos
Segundo Isabel Guimarães, é desejável que o colesterol total de crianças e adolescentes de 2 a 18 anos esteja abaixo de 150 mg/dl. O valor limítrofe é entre 150 e 170 mg/dl e, acima disso, já se caracteriza como elevado.
Analisando somente as taxas de LDL, o ideal é elas sejam menores do que 110 mg/dl. Já o HDL precisa estar acima de 45 mg/dl.
Não há sintomas
A menos que sejam níveis muito elevados, crianças com colesterol alto não apresentam sintomas. “A nossa preocupação é que a doença se manifeste no longo prazo, por meio de problemas como infarto e derrame”, afirma Felipe Lora. Em casos de taxas altíssimas, os pequenos podem apresentar gordura no fígado e a chamada xantoma, caracterizada pelo acúmulo de gordura na pele.
O leite materno é o primeiro passo para prevenir o problema
Embora não exista uma relação direta entre o consumo de leite materno e um melhor controle das taxas de colesterol, ele é um importante aliado contra esse problema. “Sabe-se que o aleitamento materno previne a obesidade”, diz o médico do Sabará. Com isso, o risco de o pequeno ter colesterol alto diminui bastante. Além disso, estudos mostram que bebês que são amamentados levam mais tempo para ser expostos a outros alimentos – que são, muitas vezes, verdadeiros vilões.